Este artigo será publicado em quatro partes. A primeira nesta segunda-feira (13/6) e a última na quinta-feira (16/6). Boa leitura!

Retiro o título do texto de K. Marx (Manuscritos Econômico-filosóficos – Ed. Martin Claret, 2.001). Vejamos, de início, indo aos dicionários, o que se pode compreender como “emancipação”. É “a ação de ser ou se tornar independente, livre. Aplica-se em muitas situações: emancipação de menor, da mulher, política, luta por direitos políticos, por igualdade, direitos de cidadania”. De especial interesse é a emancipação política. Ela tanto pode ser individual como coletiva. No último caso, por exemplo, a emancipação de um país, da região de um país, de um distrito para tornar-se um município. Karl Marx publicou um ensaio em 1.844 a respeito da “emancipação política” dos judeus na Alemanha da época, que teve o título de “a questão judaica”. Em síntese para ele “a emancipação política do judeu ou do cristão estava relacionada a uma emancipação do Estado com relação ao Judaísmo, ao Cristianismo ou a emancipação do Estado com relação a qualquer religião”. Importante também a emancipação que diz respeito às mulheres: a igualdade de gêneros, os direitos iguais para homens e mulheres, o direito ao voto.
O presente texto diz respeito, então, à conquista do homem pela emancipação humana. Não se trata de discutir o texto de Marx, mas sim de tomá-lo como inspiração para se discutir a época atual do mundo e, em especial, a do Brasil. Como ficou claro, Marx abordou o tema ao discutir uma publicação de Bruno Bauer sobre a situação dos judeus na Alemanha daquela época. A situação atual, século XXI, é diferente quanto a isso. Mas é de lembrar o sofrimento dos judeus na 2ª Guerra Mundial, o holocausto, a quantidade de mortos, de judeus, de russos e de cidadãos das diversas nações envolvidas naquele conflito. Milhões de mortos; enfim, o sofrimento de todos os povos do mundo de então em consequência do nazi-fascismo. No entanto, apesar de um exemplo tão monstruoso, eis que surgem no nosso “mundo moderno”, países cujos lideres, eleitos ou com poderes conquistados manu militari, pregam e desejam impor sistemas muito semelhantes aos de Hitler e de Mussolini. Toda uma luta de conquistas democráticas são simplesmente jogadas no lixo, com o apoio de seguidores fanáticos em quantidades maiores ou menores.
Portanto, a emancipação de que trata o presente texto, não tem como foco o judeu, mas sim todos os personagens supostamente considerados excluídos ou discriminados no mundo inteiro, seja em países altamente desenvolvidos, como os EE. UU., ou abjetamente pobres com exemplos em todos os continentes. Não há necessidade de enfocar detalhes com referência a cada nação, povo ou regiões, como judeus, negros, analfabetos, mulheres, homossexuais, trabalhador escravo, doente mental, nem de destacar aspectos individuais sobre o modo de pensar de cada um destes personagens. O objetivo é de tratar do tema de uma forma genérica, englobando todos os personagens referidos, dentro de uma visão coletiva, enfatizando a importância do aspecto social, sem deixar de lado a importância dos aspectos individuais, individualistas ou mesmos egoístas de cada ser humano. Na verdade, o objetivo é alcançar o coletivo, no sentido de pensar em todos, destacando que a emancipação deverá ter por meta a sociedade inteira, com vistas à transformação do homem singular. A força social, desta maneira, modificará o indivíduo. Advirta-se, desde logo, que a força social de uma trajetória civilizatória superior, ela própria uma conquista realizada através de uma luta social.
Se algum destaque deva ser feito, é justamente com relação à luta social. É a convocação para esta luta por parte de todos os indivíduos que compõe o tecido social, sejam eles quem forem. Neste sentido, nem se pode também enfatizar esta ou aquela ideologia, pois a ideologia que cabe é a de que o homem, como tal, é tem capacidade de atingir um determinado grau de aperfeiçoamento individual que compreenda que um futuro melhor é possível, desde que a emancipação seja uma meta a ser alcançada. Portanto, se é uma meta, supõe-se que ela seja planejada.
(*) Bruno Mendonça Costa é médico psiquiatra. A 2ª PARTE DESTE ARTIGO SERÁ PUBLICADA NA TERÇA-FEIRA (14/6).